A importância da Terapia Ocupacional no tratamento do Autismo

 

Hoje, dia de 2 de abril, é comemorado do Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
É provável que a maioria das pessoas nunca tenha ouvido falar tanto no Transtorno do Espectro Autista (TEA) quanto atualmente, mas ainda há dúvidas sobre o que realmente é, seus sintomas e as implicações para o indivíduo.
O TEA é conhecido também de diferentes maneiras, como Transtorno Autístico (Autismo), Transtorno/Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Global ou Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação e é considerado um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. Pode afetar três áreas do desenvolvimento humano como a comunicação, socialização e o padrão comportamental, seja ela restritivo e repetitivo,
No diagnóstico é detectado se o paciente possui características que envolvam prejuízos na interação social, na linguagem/comunicação, e se há padrões repetitivos de comportamento.
A Terapeuta Ocupacional, Lígia de Godoy Carvalho, da Clínica Ludens de Campinas, explica a importância do estímulo correto para os pacientes, o diagnóstico e como a terapia ajuda no desenvolvimento.
Acompanhe a entrevista:
 
Como o TO atua no tratamento do autismo?
A Terapia Ocupacional é uma profissão da área da saúde que tem como função contribuir para a aquisição, manutenção, e adaptação da capacidade funcional das pessoas nas diferentes etapas da vida.
A criança autista pode apresentar alterações no seu desenvolvimento que vão desde um atraso sensorial e motor, até falhas na comunicação e nas interações sociais que impactarão diretamente no seu desempenho nas atividades da vida diária, bem como, nas tarefas de rotina como ir à escola, participar de encontros familiares, brincar com os amigos etc.
Desta forma o terapeuta ocupacional após uma avaliação criteriosa, determina quais as áreas que estão disfuncionais e impedindo que a criança se desenvolva. Uma das áreas que em 90% das crianças com TEA apresentam alterações significativas é a sensorial. Podem apresentar uma resposta exacerbada ou não ter resposta frente aos estímulos auditivos, táteis, visuais e de movimento que são gerados nos ambientes a que são expostos. O terapeuta ocupacional após traçar o perfil sensorial desta criança, identifica quais as possíveis disfunções sensoriais que podem estar relacionada à problemas de Modulação (hiper ou hiporesponsividade aos estímulos sensoriais) ou à falhas de Discriminação sensorial que impactam diretamente na Práxis destas crianças. Para o tratamento destas disfunções a técnica mais utilizada é a Integração Sensorial, que deve ser realizada por um terapeuta ocupacional especializado e em ambiente terapêutico adequado a sua aplicação.
 
Qual é o objetivo da Integração Sensorial?
Integração Sensorial é um termo abrangente que envolve uma teoria, um processo neurológico, um distúrbio e uma abordagem de tratamento (Bundy, 2005; Mulligan, 2003). Foi criado por uma terapeuta ocupacional norte americana Jean Ayres que dedicou a sua vida ao estudo da neurologia e que criou a teoria da Integração sensorial que relaciona as sensações corporais, os mecanismos cerebrais e a aprendizagem. Além disso, propôs uma metodologia de avaliação e de tratamento para crianças com disfunções sensoriais.
Para a aplicação desta técnica é necessário um espaço terapêutico que proporcione experiências sensoriais táteis, visuais, auditivas, proprioceptivas e vestibulares. Os equipamentos variam desde balanços, escorregadores, trapézios, tirolesa, escalada, piscina de bolinhas até materiais como grãos, buchas com texturas variadas, espuma, tinta, cola, brinquedos e jogos.
Enquanto tratamento a técnica de Integração sensorial tem como objetivo melhorar o registro sensorial, a modulação e a integração dos sentidos da criança autista de forma a emitir respostas adaptativas das mais simples às mais complexas. O impacto do processamento sensorial no desenvolvimento das habilidades no TEA compromete a sua participação social, no jogo e no lazer, as atividades da vida diária, as habilidades adaptativas e acadêmicas, sono e descanso, comunicação e linguagem e estresse familiar e parental.
Assim a terapia de Integração Sensorial pode ajudar a criança aprender a se auto regular frente aos estímulos sensoriais, discriminá- los, integrá-los e gerar respostas adaptativas que os tornam mais eficientes e prontos para aprender novas habilidades sensório motoras para brincar, para ter autonomia nas atividade diárias como se alimentar, vestir, despir, usar o banheiro, ir a escola e se relacionar com os amigos e outros grupos sociais.
 
Quais outros métodos o terapeuta utiliza para integrar o autista e melhorar suas repostas no ambiente?
Existem além da Integração Sensorial outros métodos de tratamento que propõem intervenções que são dirigidas por terapeutas como o Floortime, Terapias Comportamentais ABA em diferentes ambientes como clínica, escolas, casa e na comunidade.
No entanto existem intervenções que são apoiadas por terapeutas que orientam o uso de estratégias sensoriais que tem o objetivo de facilitar respostas comportamentais. Essas estratégias podem ser efetivadas através de Programas para casa, Dietas Sensoriais, indicação de recursos como o uso de coletes e cobertores ponderados que diminuem a atividade corporal. Há também programas que dão suporte às modificações ambientais que facilitam a organização da criança como por exemplo alteração da iluminação, diminuição de estímulos auditivos, assentos adaptados que podem melhorar as respostas da criança autista em ambientes ou em condições pouco favoráveis a essas crianças.
 

Lígia de Godoy Carvalho é terapeuta ocupacional em Campinas